sábado, 21 de novembro de 2015

Rimas presas em notas soltas

Me deixa tomar a iniciativa do erro. Pare, feche os olhos e fique onde está, deixe que eu me incline até você. Me dê nove meses, me deixe gestar esse sentimento, senti-lo doce na minha boca e depois ardente nas minhas vísceras, pesado, insuportável, só pra depois eu tentar abortá-lo na esperança de vê-lo morto, gélido e ingênuo, a cara da mãe. É que eu nunca gerei uma vida e queria saber como é.
Porque é isso que os errantes sempre fazem, no soluço choroso de uma crise de pânico, no ato do suicídio, nas ligações não atendidas e nos olhares distantes e vazios. Eu não te prometo amor, te prometo apenas o pacote inteiro do meu ser nu, cru, do avesso e retalhado. Te prometo minha genital pulsando, meu peito aberto, meu sorriso cansado e meus olhos atentos.
Saiba, eu vou me apaixonar por tudo aquilo que você odeia a seu respeito, vou beijar suas feridas abertas, vou ensiná-lo a dançar, a militar e a sentir a poesia pulsar. Vou colorir seus esboços tímidos, sombrear seus vácuos e rabiscar a folha inteira da sua vida, depois de deixar o desenho pronto.
Mas não acredite nas minhas palavras de poeta, não se encante pelas belas rimas, pela métrica perfeita, tampouco pelo sentimentalismo barato.
E não se engane, eu não sou uma mulher, sou uma dinamite nietzschiana, uma barata kafkaniana. Sou a ofélia do hamlet, sem o hamlet, sou a antígona que sobreviveu, sou as crianças mortas de medeia. Por isso, não meça meus passos, não se encante pela estética da minha existência e não se perca nos labirintos que existem nas profundezas da minha mente. Se for pra ficar, devore-me viva, que amemos na mais pura antropofagia da paixão, de igual pra igual. Me destrua aos poucos na sua mente, mas me reconstrua constantemente na sua rotina.
É que eu não sei ficar, eu não sei amar, só me ensinaram a usar, jogar e reutilizar o sentimento líquido e efêmero que a nossa sociedade pós-moderna julga ser amor. Eu nasci no tempo errado, aprendi as coisas erradas com as pessoas certas. Me ensine coisas novas, recicle a minha alma e nem precisarei te dar as algemas...

2 comentários:

  1. "não meça meus passos, não se encante pela estética da minha existência e não se perca nos labirintos que existem nas profundezas da minha mente" ��

    Você escreve muito bem!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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