quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Versos terminais aos loucos

Vozes desfiguradas a ressoar
no meu ser todo conturbado,
afogadas neste hediondo ar;
a soluçar, assolando-me o fado!

Tosses cuspindo minha vida em escarlate,
por razoes de acintoso desprezo.
Réus são os pulmões, símeis e negros,
a apodrecer em deleite, eis a repulsiva verdade…

A doença consumiu-me o porvir,
sugou os detritos d'uma sutil juventude,
fez-me um hórrido, um boçal a se ferir
para aliviar a sede por morte, amiúde.

Desdenho meu ser em embriaguez;
sem garrafas ou copos, é puro o delírio,
dissolvido em estrofes que ostentam lucidez
Com fins redundantes d’outro pseudo-suicídio…

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Minha arte

Se a solidão exaurível me queima
ou m'impele aos meus próprios paradoxos,
num âmbito de nua e crua indecência
afrouxo as rédeas do consciente tóxico.

Rimas alternativas eu faço dançar
na tela de cores frias e sem linhas,
as quais em minh'alma parecem infindas,
mistas e líricas, saindo do lugar.

Como numa inquietação de elétrons,
minha arte se dá num inconsciente herético;
ao entrelaçar o influxo difuso em versos,
dá à luz a obra o meu exausto estro.

Oh! Vivaz doença, atroz sina,
digno servo eu sou da vossa ruína.
Sigo nesse desalento que tanto me fascina,
outro pobre capaz usar a rima como morfina...

O alvoroço

Nos braços de Hécate vi-me narcotizado;
em pleno estado cônscio senti-me entorpecido;
embebido em remanso, remotos foram os brados
que soavam ao longe como pífios ruídos.

Ouço a doce harpa a soar como formosas sereias,
porém nada me extrai do gozo incessante,
nem a mais alva ninfa me estonteia...
Vejo-me preso à teia do decesso doravante,

ao qual me aderi sem estigmas de hesitação;
libei Eros em sua essência, tateei Afrodite aos delírios.
No clímax do enlevo, perdi totais sentidos;
Foi-se a ebriedade, vi minha torpe destruição.

Ao abrir os olhos, afundei-me em prantos doridos, era apenas um caixão...

Disfemismos coesos

Porventura abati-vos em meus ápices de agonia,
mas se vos desapontou minha franqueza
é que viveis buscando encanto em sordidez vazia;
sendo nítido no fracasso o vácuo que vos domina.

Se me excomungais da vida por eu ser enxuta,
orai sobejamente por esta alma suja,
ou apedrejai-me até a morte em praça pública...
Só não espereis que a morte me tire essa aparência de puta.

Pois a vós somente surtem efeitos tais súplicas;
questão de ego e receio, cristandade e labuta...
Particularmente, mera perda de tempo traduzida
em vossos pobres lamentos suicidas… Quanta negação à vida!

Desgoverno

Como vinho tinto em corpo jovial o sangue defluia,
juntamente aos retratos da pródiga filha...
Os sorrisos em diversos cacos se partiam,
entende-se que o germe em sua infância se fizera cinza.

As raízes mirradas e retorcidas, outrora rijas,
desfaleceram antes que o fruto emanasse
ao mundo algum gesto jovial de alegria,
tornaram hórrida aquela graúda parte da família.

Solecismos inumeráveis invadiram-lhe a alma,
fizeram mortalha de seu corpo com derivados de morfina,
rascunharam-lhe convulsos comandos e, em sua falta,
ela aderiu à própria insânia, suscitou-lhe então o vício em ruína...

Por ironia, o descontrole foi uma exímia calamidade
e não há rima, escrito ou poética construção
que exprima seu encantamento ao deitar-se no caixão
da submissão do próprio corpo à enfermidade!

Eis-lhe a precoce e narcísea destruição...

Eudaimonia

Anseios aflitos estalam-me os pensares,
como ondas sonoras que invadem o vácuo,
acidem-me as ideias por todos os lugares
e tornam-se versos que aludem ao abstrato.

Decíduo prazer adormece-me os músculos,
outrora tesos, agora encenam sutileza...
Por parvos momentos, depois me vejo turvo.
Por não sanar a dúvida maior, volta a rijeza...

O viço então se faz utópico e mero
perante os horizontes infindos de agonia,
estende-se por um período que logo exonero
e tento baldadamente decompor em poesia...

Para que em minha memória haja algum breve vestígio de alegria.

Espólio

Súplicas sugadas pelo vácuo,
berros reprimidos pela voz da razão,
e conhecimento, esputo do abalo,
tudo que conotou minha autodestruição.

Ideais que me retorceram as vísceras,
contradições engolidas arduamente;
em meio a tanta lamúria e nímias feridas
escrevi meu testamento soez, finalmente.

Deixo-vos palavras hediondas e vis,
por vossos olhares, de um poeta madraço,
quiçá atordoado em sua matriz,
que agora nada é afora detritos do próprio fracasso.

domingo, 13 de novembro de 2011

Marasmo

Minha pele só recobre a impolidez
das réstias de uma alma dilacerada
pelas garras da própria frigidez;
Expostas em rimas pobres de ira exacerbada.

Tomou-me o regozijo em ser mortal;
levou consigo a fé já retalhada;
deu-me o vazio por lástima pesada;
Impeliu-me ao caminho inerte e sepulcral.

Sorri por inércia à busca triunfal
da velha e utópica felicidade uniforme;
descobri que é mero ser boçal
quando o real é tido como disforme...

Inebriei-me ao recusar a idealizada verdade;
entrei em coma com duas garrafas de melancolia líquida;
descobri que a morte chama aquele que se desvia
da unilateralidade da farsa ociosa, eis-me a vida!

sábado, 12 de novembro de 2011

Botequim

Derreto-me em versos com a imagem tua,
que torna monótona até a mais bela vista;
alimenta meu estro, quiçá minha vida!

Não me deixes só, dá-me uma dose a mais
da tua imódica pureza, enche-me a taça
com a tua fúlgida perfeição... Tira-me a razão

Entenda, meu bem, preciso de ti agora,
dizem que és impertinente, mas és meu entorpecente
Lava minh’alma com alívio, pois ela chora...

Derramei-te sobre minhas feridas todas;
engabelaste-me novamente, pois a dor voltou;
fazendo-me de ti mais dependente, meu amor.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Escárnio


Dar-vos-ia a exegese de minha loucura
se essa vos fosse compreensível...
Dir-vos-ei então: “Lamento, não há cura”,
para a vossa ilação exaurível.

Dai-me concretas razões
para tais insofismáveis ações;
por que me iliçar na eufonia
se sou insigne para a ousadia?

Forjar-vos-ia uma boa vida,
não espalharia este infame conhecimento
se a inépcia é a vossa segura trilha,
iluminada pela hipocrisia do sacramento...

Queimar-me-eis em vossa própria ignorância,
que vos fez cinzas há tempos...
Congratulai-vos, ao menos,
para que eu possa escarnecer-vos a tempo.