quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Miragem narcísica da alteridade implicada

Te miro como quem mira, de longe, a morte;
como a vítima que mira no peito do assassino,
mas não atira, pois teme a sorte
de errar e acertar o próprio desatino.

Miro-te no viaduto, ensaiando teu pulo;
miro-te na intentona de tentar o meu.
Capturo a imagem tua e à minha vinculo,
ensaiando entender tudo que suponho ser teu.

Eu te miro sem te afrontar, te fito sem te enfrentar.
Leio-te nas entrelinhas dos teus poemas não escritos
e te miro ao sentir-te vibrar
nos teus mais silenciosos gritos.

Só não te miro, enfim, quando sinto que me miras.
Porque a ideia de que me miras só me relanceia
ao fato de que tu és um gentil buquê de mentiras.
que fabriquei, entediada, pra ficar de mim alheia.

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